Congresso ABVCAP 2017

 
 

5 e 6 de julho de 2017 | Teatro Santander
Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, São Paulo, SP

 

Ações de investidores em curto prazo exigem cautela, afirmam especialistas


 

São Paulo, 5 de junho de 2017 – A quarta sessão do Congresso ABVCAP 2017, “Entrevista: balanço macroeconômico no Brasil e no mundo”, foi aberta pelo jornalista Ricardo Boechat com uma provocação central para os economistas brasileiros: como encarar e compreender as perspectivas para o cenário econômico brasileiro em curto prazo, tendo em vista tantas variáveis no campo político? O conselho é unânime entre os palestrantes: investidores devem ter cautela, especialmente devido às dúvidas quanto ao resultado das eleições de 2018.

O painel contou com a participação de Alessandra Ribeiro, Diretora da Área de Macroeconomia e Política da Tendências Consultoria, Fernando Honorato Barbosa, Economista-Chefe e Diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco e Vice-Presidente do Comitê de Macroeconomia da Anbima, e Fernando Machado Gonçalves, Superintendente de Pesquisa Macroeconônica do Itaú Unibanco.

Cenário econômico
No início da discussão, os palestrantes evidenciaram aspectos positivos no contexto econômico brasileiro. “Do ponto de vista econômico, temos muitas notícias positivas, como o processo de desinflação, aumento da renda real – importante suporte para o consumo –, situação mais favorável das contas externas brasileiras. Esses fundamentos, melhores que em anos anteriores, permitem que a economia passe pelos episódios da seara política de uma maneira menos tensa”, analisa Alessandra Ribeiro, Diretora da Área de Macroeconomia e Política da Tendências Consultoria.

Fernando Machado Gonçalves, Superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, pontua que a crise política sem dúvida teve impacto no adiamento da votação das reformas no Congresso. “A essa altura já deveríamos estar na primeira votação, que representa o início de uma retomada de planos de investimento. Empresas que vinham com planejamento de investir visando melhora no segundo semestre tendem a postergar seus planos de investimento com impacto na economia real”, afirma. Fernando reforça, no entanto, elementos inalterados nessa conjuntura, como o recente processo de desinflação e corte de juros.

Em relação aos investidores estrangeiros, Fernando Honorato Barbosa, Economista-Chefe e Diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco e Vice-Presidente do Comitê de Macroeconomia da Anbima, afirma que o País não é visto com maus olhos. “Esperávamos uma taxa de câmbio fora de controle, a R$3,50, e estamos em R$3,30. O investidor está habituado a encarar trocas de comando em países emergentes”. Ele completa dizendo que ainda há espaço para corte de juros e consequente minimização do impacto do cenário político na economia.

Ainda de acordo com Fernando Barbosa, entre os bons números registrados nos últimos meses, a inflação representa o dado mais consistente. “Mesmo em nossa maior crise, com queda de 9% do PIB e 14 milhões de desempregados, estamos observando queda da inflação, algo que não era possível para os economistas. Eu apostaria na inflação abaixo de 4,5% no ano que vem, e isso é muito importante para o cenário de recuperação”, afirma.

Perspectivas sem reformas
Boechat indagou os participantes do painel sobre o que restaria desse horizonte econômico caso as reformas políticas não sejam votadas, ou sejam aprovadas com alterações que alterem e minimizem seu impacto. A visão dos palestrantes é homogênea: a exclusão das reformas na análise do contexto econômico produz um cenário muito mais pessimista.

“Sem as reformas, o que resta é uma instabilidade fiscal que vai cobrar um preço alto. Algo que tem ajudado o comprador de fora é que sem a aprovação imediata não há nada que comprometa a curto prazo, mas de qualquer forma essas medidas continuam no horizonte”, comenta Fernando Gonçalves, do Itaú Unibanco, que define um cenário sem as reformas como “muito caótico”. Sobre a reforma da previdência, por exemplo, ele salienta que “alguns estados brasileiros já não conseguem pagar seus aposentados. Isso serve de exemplo para que não ocorra o mesmo em âmbito nacional”.

Recomendações para os investidores
Diante dos últimos acontecimentos no âmbito político, os palestrantes encerram o painel com um discurso consonante de que é preciso mais cautela do que ousadia ao dar novos passos graças ao horizonte desconhecido para 2018. Entre os fatores, Alessandra destaca o risco elevado das eleições, que pode resultar em um câmbio mais volátil diante dos resultados das pesquisas.

Boechat encerrou o painel com uma perspectiva positiva em relação à consciência política da população brasileira, ainda que seja difícil delinear a conjuntura pós-2018. De acordo com o jornalista, as discussões políticas estão endereçando palavras de ordem e alvos comuns. “A tendência é de um sentimento de reunificação, de redescoberta de um sentimento nacional até 2018”, finaliza.

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